Mais um item no molho das tarifas dos EUA; entenda a “guerra do tomate” com o México

Entre os inúmeros produtos vindos do México que os Estados Unidos estão taxando, um em particular pode causar forte abalo entre os consumidores americanos caso a medida se concretize: o tomate. Campeão da pauta agrícola mexicana, o item é amplamente consumido ou utilizado como complemento de vários dos pratos preferidos pelos conterrâneos de Donald Trump, como a tradicional pizza. Praticamente 90% dos tomates vendidos nos EUA vêm do México e, agora, ele vão enfrentar uma taxação de 17,09%.

Em 2024, os Estados Unidos importaram tomates do México no valor de US$ 3,234 bilhões, um crescimento de 15% em relação ao ano anterior. Com isso, atingiu uma participação de 86%, enquanto o restante da oferta externa veio de países como Canadá, Guatemala, República Dominicana e Honduras.

Na verdade, o vegetal é apenas um dano colateral da guerra comercial declarada por Trump. O produto não foi taxado numa das famosas cartas que o presidente tem enviado a diversos países. O que aconteceu, na verdade, é que o Departamento do Comércio viu um momento propício para não renovar um acordo de décadas que deixava em suspenso uma investigação do direito antidumping sobre tomates frescos do México.

“Guerra do tomate”

A guerra do tomate entre fazendeiros mexicanos e americanos começou em 1996, quando os agricultores dos EUA, especialmente da Flórida, reclamaram a um tribunal comercial que os vizinhos estavam inundando o mercado doméstico com preços artificialmente baixos.

Por conta disso, chegou-se a um acordo que os mexicanos iriam se esforçar para garantir preços mais justos, em troca de a investigação ser congelada.

Nesses 27 anos, foram assinados cinco acordos de suspensão (1996, 2002, 2008, 2013 e 2019). Nessa última vez, os signatários mexicanos concordaram em cumprir os termos do Acordo de 2019, incluindo a venda a preços mínimos de venda ou acima deles, e eliminar pelo menos 85% do dumping detectado no inquérito subjacente em cada entrada de tomate.

Um cláusula de duração permitia que o Departamento de Comércio se retirasse do Acordo de 2019 com aviso prévio de 90 dias, o que foi feito agora.

“O México continua sendo um dos nossos melhores aliados, mas por muito tempo nossos agricultores foram afetados por práticas comerciais desleais que reduzem os preços de produtos como o tomate. Isso termina hoje”, disse nesta semana o secretário de Comércio, Howard Lutnick. “Esta mudança de regra está alinhada com as políticas comerciais e a abordagem do presidente Trump para o México”, acrescentou, segundo nota do Departamento.

Efeitos da taxação

Os efeitos podem ser pesados. Os preços do tomate ao consumidor podem subir cerca de 10% e a demanda pode cair 5% como resultado dessas tarifas, disse à CNN Timothy Richards, professor de agronegócio da Universidade Estadual do Arizona.

Segundo a Florida Tomatoe Exchange, o comércio internacional tem um impacto significativo nos produtores, embaladores e transportadores de tomate da Flórida. A estação de cultivo da Flórida coincide com a alta temporada para os produtores de tomate no México – principalmente no estado mexicano de Sinaloa.

Desde 1994, ano em que o NAFTA foi implementado, a indústria da Flórida foi dizimada por um influxo de tomates mexicanos baratos, disse a entidade, destacando que a indústria de tomate local foi reduzida à metade durante esse período, com centenas de produtores sendo forçados a sair do negócio.

Acontece que, tradicionalmente, os maiores volumes de tomates mexicanos eram importados durante o inverno e a primavera, competindo diretamente com os produtores da Flórida. Mas a partir de 2006, a indústria mexicana começou a aumentar a produção nos meses de verão e outono, alimentada em parte por subsídios do governo mexicano.

Em 2010, os produtores de tomate na Califórnia, Geórgia, Michigan, Nova Jersey e outros estados produtores de verão começaram a ser pressionados pelo aumento das importações de tomates mexicanos durante as temporadas de verão e outono. O que antes era apenas um problema para os produtores de tomate de inverno na Flórida, havia se tornado uma dor de cabeça nacional para toda a indústria de tomate dos EUA.

Segundo dados do USDA, a produção de tomate do México em 2025 está prevista em 3,1 milhões de toneladas métricas (MMT), uma redução de 3% em relação ao ano anterior, devido às condições contínuas de seca nas principais áreas de produção e à menor projeção de plantio para a temporada de outono-inverno.

Também foi citado que espera-se que os produtores reduzam o plantio em resposta às tarifas antidumping dos EUA.

As exportações de tomate do México estão previstas para alcançar 1,96 MMT em 2025, incluindo 1,83 MMT para os Estados Unidos, uma queda de 5%, à medida que produtores e exportadores se ajustam às medidas dos EUA. As importações mexicanas de tomate para os EUA dispararam quase 400% entre 1994 e 2022.

Ainda há alguma esperança de negociação. O jornal USA Today informou que um grupo de mais de 30 câmaras de comércio e organizações de comércio transfronteiriço enviou uma carta ao Departamento de Comércio dos EUA em 11 de julho, instando o governo a negociar um novo acordo em vez de se retirar totalmente do acordo.

Eles alertaram que a rescisão do acordo provavelmente terá “repercussões generalizadas na economia dos EUA, afetando as indústrias de agricultura, armazenamento, logística, mercearia e restaurantes”.

Para a CNN, Teresa Razo, proprietária de dois restaurantes argentino-italianos no sul da Califórnia, disse que se os preços do tomate subirem por causa de novas tarifas sobre os produtos cultivados no México, seus negócios podem falir. “Eu dou três meses e depois vamos à falência”, disse.

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Em 2024, os Estados Unidos importaram tomates do México no valor de US$ 3,234 bilhões, um crescimento de 15% em relação ao ano anterior. Com isso, atingiu uma participação de 86%, enquanto o restante da oferta externa veio de países como Canadá, Guatemala, República Dominicana e Honduras.

Na verdade, o vegetal é apenas um dano colateral da guerra comercial declarada por Trump. O produto não foi taxado numa das famosas cartas que o presidente tem enviado a diversos países. O que aconteceu, na verdade, é que o Departamento do Comércio viu um momento propício para não renovar um acordo de décadas que deixava em suspenso uma investigação do direito antidumping sobre tomates frescos do México.

“Guerra do tomate”

A guerra do tomate entre fazendeiros mexicanos e americanos começou em 1996, quando os agricultores dos EUA, especialmente da Flórida, reclamaram a um tribunal comercial que os vizinhos estavam inundando o mercado doméstico com preços artificialmente baixos.

Por conta disso, chegou-se a um acordo que os mexicanos iriam se esforçar para garantir preços mais justos, em troca de a investigação ser congelada.

Nesses 27 anos, foram assinados cinco acordos de suspensão (1996, 2002, 2008, 2013 e 2019). Nessa última vez, os signatários mexicanos concordaram em cumprir os termos do Acordo de 2019, incluindo a venda a preços mínimos de venda ou acima deles, e eliminar pelo menos 85% do dumping detectado no inquérito subjacente em cada entrada de tomate.

Um cláusula de duração permitia que o Departamento de Comércio se retirasse do Acordo de 2019 com aviso prévio de 90 dias, o que foi feito agora.

“O México continua sendo um dos nossos melhores aliados, mas por muito tempo nossos agricultores foram afetados por práticas comerciais desleais que reduzem os preços de produtos como o tomate. Isso termina hoje”, disse nesta semana o secretário de Comércio, Howard Lutnick. “Esta mudança de regra está alinhada com as políticas comerciais e a abordagem do presidente Trump para o México”, acrescentou, segundo nota do Departamento.

Efeitos da taxação

Os efeitos podem ser pesados. Os preços do tomate ao consumidor podem subir cerca de 10% e a demanda pode cair 5% como resultado dessas tarifas, disse à CNN Timothy Richards, professor de agronegócio da Universidade Estadual do Arizona.

Segundo a Florida Tomatoe Exchange, o comércio internacional tem um impacto significativo nos produtores, embaladores e transportadores de tomate da Flórida. A estação de cultivo da Flórida coincide com a alta temporada para os produtores de tomate no México – principalmente no estado mexicano de Sinaloa.

Desde 1994, ano em que o NAFTA foi implementado, a indústria da Flórida foi dizimada por um influxo de tomates mexicanos baratos, disse a entidade, destacando que a indústria de tomate local foi reduzida à metade durante esse período, com centenas de produtores sendo forçados a sair do negócio.

Acontece que, tradicionalmente, os maiores volumes de tomates mexicanos eram importados durante o inverno e a primavera, competindo diretamente com os produtores da Flórida. Mas a partir de 2006, a indústria mexicana começou a aumentar a produção nos meses de verão e outono, alimentada em parte por subsídios do governo mexicano.

Em 2010, os produtores de tomate na Califórnia, Geórgia, Michigan, Nova Jersey e outros estados produtores de verão começaram a ser pressionados pelo aumento das importações de tomates mexicanos durante as temporadas de verão e outono. O que antes era apenas um problema para os produtores de tomate de inverno na Flórida, havia se tornado uma dor de cabeça nacional para toda a indústria de tomate dos EUA.

Segundo dados do USDA, a produção de tomate do México em 2025 está prevista em 3,1 milhões de toneladas métricas (MMT), uma redução de 3% em relação ao ano anterior, devido às condições contínuas de seca nas principais áreas de produção e à menor projeção de plantio para a temporada de outono-inverno.

Também foi citado que espera-se que os produtores reduzam o plantio em resposta às tarifas antidumping dos EUA.

As exportações de tomate do México estão previstas para alcançar 1,96 MMT em 2025, incluindo 1,83 MMT para os Estados Unidos, uma queda de 5%, à medida que produtores e exportadores se ajustam às medidas dos EUA. As importações mexicanas de tomate para os EUA dispararam quase 400% entre 1994 e 2022.

Ainda há alguma esperança de negociação. O jornal USA Today informou que um grupo de mais de 30 câmaras de comércio e organizações de comércio transfronteiriço enviou uma carta ao Departamento de Comércio dos EUA em 11 de julho, instando o governo a negociar um novo acordo em vez de se retirar totalmente do acordo.

Eles alertaram que a rescisão do acordo provavelmente terá “repercussões generalizadas na economia dos EUA, afetando as indústrias de agricultura, armazenamento, logística, mercearia e restaurantes”.

Para a CNN, Teresa Razo, proprietária de dois restaurantes argentino-italianos no sul da Califórnia, disse que se os preços do tomate subirem por causa de novas tarifas sobre os produtos cultivados no México, seus negócios podem falir. “Eu dou três meses e depois vamos à falência”, disse.

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