O erro comum do investidor no Brasil: foco no CDI e pouca diversificação

Artur Wichmann, CIO da XP Inc., e Eduardo Camara Lopes, CIO da Jubarte Capital, no podcast Outliers InfoMoney, gravado durante a Expert XP 2025.

A superestimação do CDI e a falta de diversificação seguem entre os principais erros cometidos pelos investidores brasileiros. Segundo Artur Wichmann, CIO da XP Inc., a diferença entre uma alocação bem estruturada e as falhas mais recorrentes está na capacidade de ser resiliente à volatilidade.

“Você é remunerado como investidor para ser resiliente à volatilidade”, afirmou, destacando que grandes investidores se consolidam não pelos ganhos extraordinários em um único ano, mas pela consistência ao longo de décadas.

Wichmann listou três equívocos comuns entre os brasileiros: horizonte de investimento muito curto, pouca diversificação e confiança excessiva no CDI como ativo protetor. “O CDI é ótimo até que você descobre que, no momento de crise, ele não te protege”, disse, lembrando perdas registradas durante a crise de 2015-2016 e a pandemia de Covid-19.

As observações foram feitas no episódio mais recente do podcast Outliers, do InfoMoney, apresentado por Clara Sodré e Fabiano Cintra, gravado durante a Expert XP, que também contou com a participação de Eduardo Camara Lopes, CIO da Jubarte Capital.

Para ele, a tentação de apostar em ganhos rápidos, estimulada pelos juros historicamente altos, leva muitos investidores a riscos desnecessários. “Na aposta que você erra, se colocar um ‘para trás’ muito grande, você não recupera nunca mais”, alertou.

O erro do ‘home bias’ e o excesso de curto-‘prazismo’

Eduardo Camara Lopes fez um acréscimo ao comentário do colega. Para ele, o maior erro está na falta de diversificação geográfica. Segundo o gestor da Jubarte, concentrar-se apenas no mercado local significa perder momentos de valorização em outras geografias e se expor a ciclos de risco típicos do Brasil.

“A Bolsa está barata desde 2021, mas não é uma classe para carregar estruturalmente. Vai haver momentos em que faz sentido estar comprado, mas não o tempo inteiro.”

— Eduardo Camara Lopes, CIO da Jubarte Capital

Ele também destacou que o investidor local é “muito trader e pouco investidor”, focando em ganhos rápidos em vez de construir um portfólio estrutural de longo prazo. Essa mentalidade, na visão dele, prejudica retornos sustentáveis.

Na Jubarte, a filosofia é clara: “A diversificação fora do Brasil é a maior capacidade que você pode ter no seu portfólio. É a melhor forma de se proteger de drawdowns”, afirmou.

Excepcionalismo americano continua vivo

Ao comentar a tendência global, Lopes defendeu que os Estados Unidos seguem como o centro de inovação mundial, apesar das discussões sobre o “fim do excepcionalismo americano”. Ele citou a diferença entre a idade média das maiores empresas listadas nos EUA, Alemanha e França para ilustrar o dinamismo da economia norte-americana.

“As cinco maiores empresas do S&P têm em média 36 anos, enquanto no DAX a média é 77 e no CAC, da França, 117 anos”, disse. Para ele, esse rejuvenescimento constante das lideranças corporativas é resultado da flexibilidade econômica e cultural dos EUA, que estimulam a inovação.

O CIO da Jubarte reforçou que foi dos Estados Unidos que surgiram tecnologias como a inteligência artificial e que também é de lá que virá a próxima onda de inovação, o computador quântico.

“Eu sou muito confiante dos Estados Unidos como potência do mundo de geração de produtividade.”

— Eduardo Camara Lopes, CIO da Jubarte Capital

Wichmann concordou e acrescentou que o diferencial norte-americano não está apenas no macro, mas no microeconômico. “O excepcionalismo norte-americano sempre foi o fenômeno microeconômico… É destruição criadora schumpeteriana na veia”, disse.

“Just do it”: o dever de internacionalizar

A conversa também trouxe recomendações práticas para o investidor brasileiro que ainda não sabe como dar o primeiro passo na internacionalização. Wichmann foi direto: “Para quem não tem diversificação internacional, just do it. Faça”.

O gestor da XP destacou que a exposição deve respeitar o perfil de risco de cada um e pode ser feita de forma gradual.

“Você tem que ter o percentual internacional de acordo com a sua aversão a risco. Dá um passo, se acostuma, vê a volatilidade, depois dá o segundo passo.”

— Artur Wichmann, CIO da XP Inc.

Ele lembrou que o Brasil representa menos de 1% do mercado de capitais mundial, mas concentra mais de 98% dos investimentos dos brasileiros.

“É como se estivéssemos dizendo implicitamente que, em 99% do mercado de capitais no mundo, não existem boas oportunidades. Eu acho essa hipótese muito dura.”

— Artur Wichmann, CIO da XP Inc.

Lopes completou que diversificar não é apenas mandar dinheiro para fora e comprar um CDB em dólar.

“Isso não é diversificar, só trocou a moeda. Diversificar é comprar ativos globais, ETFs, classes de risco diferentes”, exemplificou.

Investir fora é inevitável

Na avaliação dos gestores, o trabalho de casas como a XP e a Jubarte não se resume a entregar retorno, mas também a educar o investidor brasileiro para esse movimento.

“Nosso papel não é só dar uma cota boa, mas ajudar o investidor com educação”, destacou Lopes, que mantém uma publicação semanal sobre investimentos globais.

Ele citou o exemplo do ETF do S&P 500 como porta de entrada simples e eficiente para quem deseja começar.

“Não vai dar muito errado você comprar um S&P. Depois existem estratégias mais sofisticadas, mas esse é um bom começo”, afirmou.

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A superestimação do CDI e a falta de diversificação seguem entre os principais erros cometidos pelos investidores brasileiros. Segundo Artur Wichmann, CIO da XP Inc., a diferença entre uma alocação bem estruturada e as falhas mais recorrentes está na capacidade de ser resiliente à volatilidade.

“Você é remunerado como investidor para ser resiliente à volatilidade”, afirmou, destacando que grandes investidores se consolidam não pelos ganhos extraordinários em um único ano, mas pela consistência ao longo de décadas.

Wichmann listou três equívocos comuns entre os brasileiros: horizonte de investimento muito curto, pouca diversificação e confiança excessiva no CDI como ativo protetor. “O CDI é ótimo até que você descobre que, no momento de crise, ele não te protege”, disse, lembrando perdas registradas durante a crise de 2015-2016 e a pandemia de Covid-19.

As observações foram feitas no episódio mais recente do podcast Outliers, do InfoMoney, apresentado por Clara Sodré e Fabiano Cintra, gravado durante a Expert XP, que também contou com a participação de Eduardo Camara Lopes, CIO da Jubarte Capital.

Para ele, a tentação de apostar em ganhos rápidos, estimulada pelos juros historicamente altos, leva muitos investidores a riscos desnecessários. “Na aposta que você erra, se colocar um ‘para trás’ muito grande, você não recupera nunca mais”, alertou.

O erro do ‘home bias’ e o excesso de curto-‘prazismo’

Eduardo Camara Lopes fez um acréscimo ao comentário do colega. Para ele, o maior erro está na falta de diversificação geográfica. Segundo o gestor da Jubarte, concentrar-se apenas no mercado local significa perder momentos de valorização em outras geografias e se expor a ciclos de risco típicos do Brasil.

“A Bolsa está barata desde 2021, mas não é uma classe para carregar estruturalmente. Vai haver momentos em que faz sentido estar comprado, mas não o tempo inteiro.”

— Eduardo Camara Lopes, CIO da Jubarte Capital

Ele também destacou que o investidor local é “muito trader e pouco investidor”, focando em ganhos rápidos em vez de construir um portfólio estrutural de longo prazo. Essa mentalidade, na visão dele, prejudica retornos sustentáveis.

Na Jubarte, a filosofia é clara: “A diversificação fora do Brasil é a maior capacidade que você pode ter no seu portfólio. É a melhor forma de se proteger de drawdowns”, afirmou.

Excepcionalismo americano continua vivo

Ao comentar a tendência global, Lopes defendeu que os Estados Unidos seguem como o centro de inovação mundial, apesar das discussões sobre o “fim do excepcionalismo americano”. Ele citou a diferença entre a idade média das maiores empresas listadas nos EUA, Alemanha e França para ilustrar o dinamismo da economia norte-americana.

“As cinco maiores empresas do S&P têm em média 36 anos, enquanto no DAX a média é 77 e no CAC, da França, 117 anos”, disse. Para ele, esse rejuvenescimento constante das lideranças corporativas é resultado da flexibilidade econômica e cultural dos EUA, que estimulam a inovação.

O CIO da Jubarte reforçou que foi dos Estados Unidos que surgiram tecnologias como a inteligência artificial e que também é de lá que virá a próxima onda de inovação, o computador quântico.

“Eu sou muito confiante dos Estados Unidos como potência do mundo de geração de produtividade.”

— Eduardo Camara Lopes, CIO da Jubarte Capital

Wichmann concordou e acrescentou que o diferencial norte-americano não está apenas no macro, mas no microeconômico. “O excepcionalismo norte-americano sempre foi o fenômeno microeconômico… É destruição criadora schumpeteriana na veia”, disse.

“Just do it”: o dever de internacionalizar

A conversa também trouxe recomendações práticas para o investidor brasileiro que ainda não sabe como dar o primeiro passo na internacionalização. Wichmann foi direto: “Para quem não tem diversificação internacional, just do it. Faça”.

O gestor da XP destacou que a exposição deve respeitar o perfil de risco de cada um e pode ser feita de forma gradual.

“Você tem que ter o percentual internacional de acordo com a sua aversão a risco. Dá um passo, se acostuma, vê a volatilidade, depois dá o segundo passo.”

— Artur Wichmann, CIO da XP Inc.

Ele lembrou que o Brasil representa menos de 1% do mercado de capitais mundial, mas concentra mais de 98% dos investimentos dos brasileiros.

“É como se estivéssemos dizendo implicitamente que, em 99% do mercado de capitais no mundo, não existem boas oportunidades. Eu acho essa hipótese muito dura.”

— Artur Wichmann, CIO da XP Inc.

Lopes completou que diversificar não é apenas mandar dinheiro para fora e comprar um CDB em dólar.

“Isso não é diversificar, só trocou a moeda. Diversificar é comprar ativos globais, ETFs, classes de risco diferentes”, exemplificou.

Investir fora é inevitável

Na avaliação dos gestores, o trabalho de casas como a XP e a Jubarte não se resume a entregar retorno, mas também a educar o investidor brasileiro para esse movimento.

“Nosso papel não é só dar uma cota boa, mas ajudar o investidor com educação”, destacou Lopes, que mantém uma publicação semanal sobre investimentos globais.

Ele citou o exemplo do ETF do S&P 500 como porta de entrada simples e eficiente para quem deseja começar.

“Não vai dar muito errado você comprar um S&P. Depois existem estratégias mais sofisticadas, mas esse é um bom começo”, afirmou.

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