A reação contida do mercado após EUA atacarem o Irã – e o que isso indica ao Brasil

As primeiras reações do mercado na noite do último domingo (22) após os EUA atacarem instalações nucleares do Irã no dia anterior foram tímidas, mas os investidores seguirão monitorando de perto os desdobramentos do conflito. Para o mercado brasileiro, atenção para os efeitos de uma possível maior aversão a risco que pode respingar nos ativos do país, mas também uma alta de ações relacionadas ao petróleo que compõem grande parte do Ibovespa.

Para o estrategista de ações da XP, Raphael “Rafi” Figueredo, os primeiros sinais dos mercados internacionais apontaram uma abertura tranquila dado tudo que aconteceu e as pontas ainda soltas diante do conflito geopolítico. O petróleo chegou a subir 4% nos movimentos iniciais, mas amenizou os ganhos para menos de 2%, enquanto os índices futuros dos EUA caíam cerca de 0,4% no fim da noite do domingo.

Assim, os mercados globais reduziram a maioria de seus movimentos iniciais, com os investidores aguardando para ver como o Irã responderá depois que o país alertou sobre retaliações e Israel não deu sinais de que vai diminuir seu ataque.

O presidente dos EUA, Donald Trump, disse que “obliterou” as principais instalações nucleares do Irã em ataques durante a noite de sábado, juntando-se a um ataque israelense em uma escalada do conflito no Oriente Médio, enquanto Teerã prometeu se defender.

O Irã é o terceiro maior produtor de petróleo da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP). O Conselho Supremo de Segurança Nacional do Irã deve tomar a decisão final sobre o fechamento do Estreito de Ormuz, informou a Press TV do Irã, após o parlamento supostamente ter aprovado a medida. O fechamento do Estreito de Ormuz pode fazer com que o preço do petróleo dispare, uma vez que é passagem de 20% do petróleo mundial. O governo dos Estados Unidos pediu à China que atue para dissuadir o Irã de fechar o Estreito.

Para Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, o atual cenário aumenta a volatilidade e risco para investidores. Os Estados Unidos estarem envolvidos no conflito pode exigir uma resposta maior do Irã e afetar assim a cotação do petróleo.

Para Rafi, a expectativa continua, o que impõe algum risco e faz com que o mercado siga atento à ameaça real do bloqueio do estreito. “O petróleo seguirá como ativo de alta frequência para medir a temperatura/tensão do conflito. O dólar, por sua vez, segue fraco e não tem sido a moeda de refúgio já algum tempo”, avalia.

Mas, por enquanto, as condições de oferta atualmente estáveis ​​e a disponibilidade de capacidade de produção excedente entre outros membros da OPEP limitaram os ganhos do petróleo. Os prêmios de risco diminuíram uma vez que não ocorreram interrupções no fornecimento, disse Giovanni Staunovo, analista do UBS.

Ajay Parmar, diretor de análise de transição de petróleo e energia da consultoria ICIS, afirmou à CNBC ser improvável que o Irã consiga impor um bloqueio do estreito por muito tempo. “A maior parte das exportações de petróleo do Irã para a China passa por este estreito e é improvável que Trump tolere a inevitável alta do preço do petróleo por muito tempo — a pressão diplomática das duas maiores economias do mundo também seria significativa”, afirmou.

“Esse tipo de incerteza está rapidamente se tornando o novo normal para os mercados, então espero ver uma relativa sensação de calma, a menos que vejamos as tensões continuarem aumentando, o que, para ser claro, tem potencial para acontecer”, disse à Bloomberg Josh Gilbert, analista de mercado da eToro em Sydney. “Mesmo sem uma consequência imediata, a combinação de volatilidade do petróleo e incerteza renovada provavelmente será suficiente para manter o apetite ao risco contido.”

Aqui no Brasil, a Petrobras (PETR3;PETR4) deve adotar a postura de aguardar para analisar o quão definitivo é o novo cenário antes de pensar em repasse de preços, avalia Gustavo Cruz. Cabe ressaltar que as ações de petroleiras têm se destacado no mês entre as que compõem o Ibovespa em meio ao avanço da commodity por conta do conflito, movimento que deve se repetir mais vezes enquanto o conflito ganha novos desdobramentos.

O que determinará os próximos passos do mercado

Enquanto isso, no fim da noite de domingo, o dólar se valorizava ligeiramente (+0,2%) em relação ao euro e à maioria dos principais pares, enquanto os rendimentos dos títulos do Tesouro americano subiram ligeiramente.

A reação do mercado tem sido geralmente moderada desde o ataque inicial de Israel neste mês. Mesmo após cair nas últimas duas semanas, o S&P 500 está apenas cerca de 3% abaixo de sua máxima histórica de fevereiro. O dólar subiu pouco mais de 1% desde que atingiu a mínima de três anos no início deste mês.

Se isso vai se manter, depende muito dos próximos passos do Irã, de acordo com alguns observadores do mercado.

“É muito provável que o Irã contra-ataque os Estados Unidos de alguma forma”, disse à Bloomberg Ben Zala, professor sênior de relações internacionais na Universidade Monash, em Melbourne. “O mercado, nesse sentido, será muito, muito reativo a eventos militares na região — em ações, títulos e moedas — porque simplesmente não sabemos como isso vai se desenrolar.”

“Se o ciclo de retaliações continuar, o aumento dos gastos fiscais dos EUA poderá levar a um aumento nos rendimentos dos títulos do Tesouro e nos preços das ações americanas”, escreveu Ataru Okumura, estrategista sênior de taxas de juros da SMBC Nikko Securities Inc., em nota. No conflito no Iraque em 2003 e na Guerra do Golfo em 1991, “as ações americanas se recuperaram à medida que o efeito de estímulo dos enormes gastos de guerra se tornou aparente ou era esperado que se tornasse aparente”.

Enquanto isso, a queda pode ser limitada porque alguns participantes do mercado vêm se preparando para o agravamento do conflito. O MSCI All Country World Index recuou 1,5% desde que Israel atacou o Irã em 13 de junho. Os gestores de fundos reduziram suas posições em ações, os ativos não estão mais sobrecomprados e a demanda por hedge aumentou, o que significa que uma liquidação profunda é menos provável nesses níveis.

Enquanto isso, os prêmios de rendimento dos títulos em dólar com grau de investimento da Ásia, fora do Japão, tiveram a maior alta em mais de um mês. No setor de ações, papéis de empresas de transporte marítimo, como a Ningbo Marine e a Nanjing Tanker, avançaram devido à especulação de que as tarifas de frete de petroleiros podem subir após os ataques aéreos dos EUA. As ações de defesa asiáticas subiram, enquanto as ações de companhias aéreas caíram devido à alta dos preços do petróleo.

(com Reuters e Bloomberg)

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Para o estrategista de ações da XP, Raphael “Rafi” Figueredo, os primeiros sinais dos mercados internacionais apontaram uma abertura tranquila dado tudo que aconteceu e as pontas ainda soltas diante do conflito geopolítico. O petróleo chegou a subir 4% nos movimentos iniciais, mas amenizou os ganhos para menos de 2%, enquanto os índices futuros dos EUA caíam cerca de 0,4% no fim da noite do domingo.

Assim, os mercados globais reduziram a maioria de seus movimentos iniciais, com os investidores aguardando para ver como o Irã responderá depois que o país alertou sobre retaliações e Israel não deu sinais de que vai diminuir seu ataque.

O presidente dos EUA, Donald Trump, disse que “obliterou” as principais instalações nucleares do Irã em ataques durante a noite de sábado, juntando-se a um ataque israelense em uma escalada do conflito no Oriente Médio, enquanto Teerã prometeu se defender.

O Irã é o terceiro maior produtor de petróleo da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP). O Conselho Supremo de Segurança Nacional do Irã deve tomar a decisão final sobre o fechamento do Estreito de Ormuz, informou a Press TV do Irã, após o parlamento supostamente ter aprovado a medida. O fechamento do Estreito de Ormuz pode fazer com que o preço do petróleo dispare, uma vez que é passagem de 20% do petróleo mundial. O governo dos Estados Unidos pediu à China que atue para dissuadir o Irã de fechar o Estreito.

Para Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, o atual cenário aumenta a volatilidade e risco para investidores. Os Estados Unidos estarem envolvidos no conflito pode exigir uma resposta maior do Irã e afetar assim a cotação do petróleo.

Para Rafi, a expectativa continua, o que impõe algum risco e faz com que o mercado siga atento à ameaça real do bloqueio do estreito. “O petróleo seguirá como ativo de alta frequência para medir a temperatura/tensão do conflito. O dólar, por sua vez, segue fraco e não tem sido a moeda de refúgio já algum tempo”, avalia.

Mas, por enquanto, as condições de oferta atualmente estáveis ​​e a disponibilidade de capacidade de produção excedente entre outros membros da OPEP limitaram os ganhos do petróleo. Os prêmios de risco diminuíram uma vez que não ocorreram interrupções no fornecimento, disse Giovanni Staunovo, analista do UBS.

Ajay Parmar, diretor de análise de transição de petróleo e energia da consultoria ICIS, afirmou à CNBC ser improvável que o Irã consiga impor um bloqueio do estreito por muito tempo. “A maior parte das exportações de petróleo do Irã para a China passa por este estreito e é improvável que Trump tolere a inevitável alta do preço do petróleo por muito tempo — a pressão diplomática das duas maiores economias do mundo também seria significativa”, afirmou.

“Esse tipo de incerteza está rapidamente se tornando o novo normal para os mercados, então espero ver uma relativa sensação de calma, a menos que vejamos as tensões continuarem aumentando, o que, para ser claro, tem potencial para acontecer”, disse à Bloomberg Josh Gilbert, analista de mercado da eToro em Sydney. “Mesmo sem uma consequência imediata, a combinação de volatilidade do petróleo e incerteza renovada provavelmente será suficiente para manter o apetite ao risco contido.”

Aqui no Brasil, a Petrobras (PETR3;PETR4) deve adotar a postura de aguardar para analisar o quão definitivo é o novo cenário antes de pensar em repasse de preços, avalia Gustavo Cruz. Cabe ressaltar que as ações de petroleiras têm se destacado no mês entre as que compõem o Ibovespa em meio ao avanço da commodity por conta do conflito, movimento que deve se repetir mais vezes enquanto o conflito ganha novos desdobramentos.

O que determinará os próximos passos do mercado

Enquanto isso, no fim da noite de domingo, o dólar se valorizava ligeiramente (+0,2%) em relação ao euro e à maioria dos principais pares, enquanto os rendimentos dos títulos do Tesouro americano subiram ligeiramente.

A reação do mercado tem sido geralmente moderada desde o ataque inicial de Israel neste mês. Mesmo após cair nas últimas duas semanas, o S&P 500 está apenas cerca de 3% abaixo de sua máxima histórica de fevereiro. O dólar subiu pouco mais de 1% desde que atingiu a mínima de três anos no início deste mês.

Se isso vai se manter, depende muito dos próximos passos do Irã, de acordo com alguns observadores do mercado.

“É muito provável que o Irã contra-ataque os Estados Unidos de alguma forma”, disse à Bloomberg Ben Zala, professor sênior de relações internacionais na Universidade Monash, em Melbourne. “O mercado, nesse sentido, será muito, muito reativo a eventos militares na região — em ações, títulos e moedas — porque simplesmente não sabemos como isso vai se desenrolar.”

“Se o ciclo de retaliações continuar, o aumento dos gastos fiscais dos EUA poderá levar a um aumento nos rendimentos dos títulos do Tesouro e nos preços das ações americanas”, escreveu Ataru Okumura, estrategista sênior de taxas de juros da SMBC Nikko Securities Inc., em nota. No conflito no Iraque em 2003 e na Guerra do Golfo em 1991, “as ações americanas se recuperaram à medida que o efeito de estímulo dos enormes gastos de guerra se tornou aparente ou era esperado que se tornasse aparente”.

Enquanto isso, a queda pode ser limitada porque alguns participantes do mercado vêm se preparando para o agravamento do conflito. O MSCI All Country World Index recuou 1,5% desde que Israel atacou o Irã em 13 de junho. Os gestores de fundos reduziram suas posições em ações, os ativos não estão mais sobrecomprados e a demanda por hedge aumentou, o que significa que uma liquidação profunda é menos provável nesses níveis.

Enquanto isso, os prêmios de rendimento dos títulos em dólar com grau de investimento da Ásia, fora do Japão, tiveram a maior alta em mais de um mês. No setor de ações, papéis de empresas de transporte marítimo, como a Ningbo Marine e a Nanjing Tanker, avançaram devido à especulação de que as tarifas de frete de petroleiros podem subir após os ataques aéreos dos EUA. As ações de defesa asiáticas subiram, enquanto as ações de companhias aéreas caíram devido à alta dos preços do petróleo.

(com Reuters e Bloomberg)

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